quarta-feira, 10 de junho de 2015

História da Infância de Athor – Tragédia


I

Zahar corria pelos arredores do castelo, em direção a enfermaria onde Kiatrus trabalhava.

Ao chegar no local, viu o daktario enfaixando o braço de uma criança.

- Kiatrus, precisamos da sua ajuda! Venha agora comigo!

Kiatrus não hesitou em seguir a ordem de Zahar. Deixou a criança sob os cuidados de sua aprendiz e correu.

Entraram no castelo e conforme avançavam, Kiatrus percebeu que o general o levava para o aposento real.

Pouco antes de chegar ao quarto do rei, ouviu o choro de um bebê.

Ao entrar, viu o rei e a rainha deitados na cama. Havia sangue sobre eles e também no chão. Cadeiras e mesas derrubadas, objetos quebrados, a janela estilhaçada.

À frente de Kiatrus, Zahar olhava para a rainha.

- Pelos Deuses! - disse Zahar.

Da antessala do aposento, saiu Tirand, o general arqueiro.

- Zahar, a rainha não resistiu ao parto. - ele disse.

Kiatrus, transtornado com o que via, continuava sem entender. O choro do bebe ainda ecoava.

- O que aconteceu aqui?

O arqueiro se adiantou em responder.

- Nossos Valorosos Rei e Rainha foram atacados a pouco. Nossa Rainha estava viva quando Zahar saiu depressa para procura-lo. Ela, com suas últimas forças e com um pouco de nossa ajuda, deu a luz a criança que esperava. É está criança que chora. Está na antessala com a criada.

Kiatrus ao ouvir o Bravo General Tirand, entendeu todo o ocorrido. Mas ao invés de ir em direção a sala de onde vinha o choro da criança, para onde o Bravo Tirand apontava com a mão, o daktario escolheu correr em direção ao leito real, onde jaziam os dois soberanos, em busca de sinal de vida.

Tirand, que já havia feito tal busca, disse:

- Respeitavel Kiatrus, sei que é melhor em averiguar sinais de vida do que eu, mas acredite em mim quando digo que por um longo tempo busquei reanima-los. Não sou perito na arte da cura, mas conheço bem a morte quando se instala em uma pessoa, pois aprendi estas coisas no campo de batalha. Por isso te peço, respeitavel Daktario, por favor, olhe a criança, para ver se está bem, se a vida dela não corre risco.

Kiatrus, resignado, foi em direção a antessala. Lá estava uma mulher, com uma criança, recém-nascida no colo, embrulhada em um grande lençol branco. A criada segurava a criança contra o peito e tentava acalma-la.

Kiatrus foi até a criança. Sem retira-la dos braços da mulher, examinou os olhos, a boca e o pulso.

- A criança parece bem.

- É uma menina. – disse a criada.

- Uma menina? Então será tão bela quanto à mãe.

- Honrado Kiatrus. - disse Tirand, que assistira atento ao exame da criança - Acredito que queira saber quem foi o responsável por essa tragédia, mas...

- Bravo General Tirand. – disse Kiatrus interrompendo a fala do arqueiro – O caminho que os Deuses me incumbiram de seguir foi o da Cura e o do Estudo, estes assuntos me são próprios. Mas quanto aos assuntos relacionados aos motivos desta tragédia, não me aproximo destes, pois sei que destas coisas, outros, com maior capacidade, cuidam melhor. Entendo que não possa me dizer sobre o que ocorreu, e confio aos Generais Vanrokianos a elucidação desta tragédia. Apenas peço, bravo general, que me responda a uma questão.

- Pode perguntar, Kiatrus, o que quer saber?

- Me responda, onde se encontra o filho de nosso Valoroso Rei, Por um acaso ele foi mais uma das vitimas dessa trágedia?

Tirand compreendeu a preocupação sobre a segurança de Áthor, visto que o filho do Rei estava viajando a dois dias.

- Áthor está bem, valoroso amigo. Há dois dias viajou para Navahan, para aprender a navegar com nossos barcos. Deverá voltar amanha.



II


- Temos que caçar e matar Daktahuan.

Na sala de reuniões estavam Tirand, Zahar e Vhatur, os chefes conselheiros de Vanrok.

- Esse não será um grande problema, meu amigo – disse Zahar ante a declaração de Tirand. -  Já enviei Bassar e Acorio para procura-lo. Acredito que não vão demorar muito para acha-lo e traze-lo.

- Por que acha que será fácil? – perguntou Tirand.

- Daktahuan não era como o rei Ethor. Nosso rei desde a juventude fazia questão de se manter conhecedor das técnicas de guerra e de sobrevivência, mas Daktahuan nunca teve grande interesse nestas coisas. Desde cedo se acostumou a uma vida fácil. Não conseguirá se manter como um fugitivo por muito tempo.

- Já tem alguma informação de onde ele esta?

- Sabemos que pouco tempo depois do crime, Daktahuan saiu pelo portão leste. Estava em uma carruagem. Disse aos guardas que iria para Ierkord. De qualquer maneira, há muitos postos de guarda nas estradas próximas ao castelo. A esta altura, Bassar e Acorio já devem saber qual estrada Daktahuan tomou. E caso ele tenha resolvido abandonar a carruagem e seguir por algum atalho, será ainda mais fácil rastrea-lo e alcança-lo.

- Garanto a vocês, não demorará muito até que o tragam, vivo ou morto. Como eu disse esse não é o maior de nossos problemas.

- Acredito que os senhores entendem a gravidade da situação. Se não agirmos a partir de agora, com cuidado, se tomarmos decisões erradas e precipitadas, podemos colocar em risco todo o reino. Vanrok depende de como trataremos esse assunto.

Tirand concordou e disse:

- Eu penso que durante o tempo que pudermos, devemos manter esta tragédia em segredo, o máximo possível. Durante o tempo em que conseguirmos isso, devemos nos preparar para as consequências, que ocorrerão quando tudo for descoberto.

- Concordo. – disse Zahar. - As consequências podem ser muito graves. Devemos nos preparar para todos os cenários possíveis. Podemos estar falando, inclusive, do recomeço da Guerra.

- Sim. Não há como saber.

Os três homens entraram em introspecção. Se lembraram da Guerra. De todo o sofrimento que passaram e que viram outros passar. E se lembraram de Ethor, o rei que os conduziu a paz.

Vathur quebrou o silêncio.

- Nosso rei era bom. Não acho que ele merecia esse fim. Mas quem somos nós perante a vontade dos deuses. A única coisa que nos cabe, como simples homens, mortais, é lutar por aquilo que acreditamos. E todos aqui acreditamos na importância do legado de nosso rei, ele que por sua vez acreditou e honrou o legado deixado por seus antepassados. A responsabilidade agora passa para nós. Nós que não temos o sangue de Euristeu. Devemos cuidar de Vanrok, como a um filho que nos foi confiado por um grande amigo. Mas devemos lembrar que um dia esse amigo retornará. Não nos esqueçamos que Ethor tem um herdeiro. O futuro pai de Vanrok, Athor. Será também nossa responsabilidade forma-lo, fazer com que ele surja forte e sábio. É uma grande responsabilidade. E eu confio na capacidade dos senhores em cumpri-la.

- Nós também confiamos na sua capacidade, mestre Vhatur. Precisaremos da sua ajuda, agora mais do que nunca.

- Enquanto eu respirar, senhores, Vanrok poderá contar comigo.