quarta-feira, 10 de junho de 2015

História da Infância de Athor – Tragédia


I

Zahar corria pelos arredores do castelo, em direção a enfermaria onde Kiatrus trabalhava.

Ao chegar no local, viu o daktario enfaixando o braço de uma criança.

- Kiatrus, precisamos da sua ajuda! Venha agora comigo!

Kiatrus não hesitou em seguir a ordem de Zahar. Deixou a criança sob os cuidados de sua aprendiz e correu.

Entraram no castelo e conforme avançavam, Kiatrus percebeu que o general o levava para o aposento real.

Pouco antes de chegar ao quarto do rei, ouviu o choro de um bebê.

Ao entrar, viu o rei e a rainha deitados na cama. Havia sangue sobre eles e também no chão. Cadeiras e mesas derrubadas, objetos quebrados, a janela estilhaçada.

À frente de Kiatrus, Zahar olhava para a rainha.

- Pelos Deuses! - disse Zahar.

Da antessala do aposento, saiu Tirand, o general arqueiro.

- Zahar, a rainha não resistiu ao parto. - ele disse.

Kiatrus, transtornado com o que via, continuava sem entender. O choro do bebe ainda ecoava.

- O que aconteceu aqui?

O arqueiro se adiantou em responder.

- Nossos Valorosos Rei e Rainha foram atacados a pouco. Nossa Rainha estava viva quando Zahar saiu depressa para procura-lo. Ela, com suas últimas forças e com um pouco de nossa ajuda, deu a luz a criança que esperava. É está criança que chora. Está na antessala com a criada.

Kiatrus ao ouvir o Bravo General Tirand, entendeu todo o ocorrido. Mas ao invés de ir em direção a sala de onde vinha o choro da criança, para onde o Bravo Tirand apontava com a mão, o daktario escolheu correr em direção ao leito real, onde jaziam os dois soberanos, em busca de sinal de vida.

Tirand, que já havia feito tal busca, disse:

- Respeitavel Kiatrus, sei que é melhor em averiguar sinais de vida do que eu, mas acredite em mim quando digo que por um longo tempo busquei reanima-los. Não sou perito na arte da cura, mas conheço bem a morte quando se instala em uma pessoa, pois aprendi estas coisas no campo de batalha. Por isso te peço, respeitavel Daktario, por favor, olhe a criança, para ver se está bem, se a vida dela não corre risco.

Kiatrus, resignado, foi em direção a antessala. Lá estava uma mulher, com uma criança, recém-nascida no colo, embrulhada em um grande lençol branco. A criada segurava a criança contra o peito e tentava acalma-la.

Kiatrus foi até a criança. Sem retira-la dos braços da mulher, examinou os olhos, a boca e o pulso.

- A criança parece bem.

- É uma menina. – disse a criada.

- Uma menina? Então será tão bela quanto à mãe.

- Honrado Kiatrus. - disse Tirand, que assistira atento ao exame da criança - Acredito que queira saber quem foi o responsável por essa tragédia, mas...

- Bravo General Tirand. – disse Kiatrus interrompendo a fala do arqueiro – O caminho que os Deuses me incumbiram de seguir foi o da Cura e o do Estudo, estes assuntos me são próprios. Mas quanto aos assuntos relacionados aos motivos desta tragédia, não me aproximo destes, pois sei que destas coisas, outros, com maior capacidade, cuidam melhor. Entendo que não possa me dizer sobre o que ocorreu, e confio aos Generais Vanrokianos a elucidação desta tragédia. Apenas peço, bravo general, que me responda a uma questão.

- Pode perguntar, Kiatrus, o que quer saber?

- Me responda, onde se encontra o filho de nosso Valoroso Rei, Por um acaso ele foi mais uma das vitimas dessa trágedia?

Tirand compreendeu a preocupação sobre a segurança de Áthor, visto que o filho do Rei estava viajando a dois dias.

- Áthor está bem, valoroso amigo. Há dois dias viajou para Navahan, para aprender a navegar com nossos barcos. Deverá voltar amanha.



II


- Temos que caçar e matar Daktahuan.

Na sala de reuniões estavam Tirand, Zahar e Vhatur, os chefes conselheiros de Vanrok.

- Esse não será um grande problema, meu amigo – disse Zahar ante a declaração de Tirand. -  Já enviei Bassar e Acorio para procura-lo. Acredito que não vão demorar muito para acha-lo e traze-lo.

- Por que acha que será fácil? – perguntou Tirand.

- Daktahuan não era como o rei Ethor. Nosso rei desde a juventude fazia questão de se manter conhecedor das técnicas de guerra e de sobrevivência, mas Daktahuan nunca teve grande interesse nestas coisas. Desde cedo se acostumou a uma vida fácil. Não conseguirá se manter como um fugitivo por muito tempo.

- Já tem alguma informação de onde ele esta?

- Sabemos que pouco tempo depois do crime, Daktahuan saiu pelo portão leste. Estava em uma carruagem. Disse aos guardas que iria para Ierkord. De qualquer maneira, há muitos postos de guarda nas estradas próximas ao castelo. A esta altura, Bassar e Acorio já devem saber qual estrada Daktahuan tomou. E caso ele tenha resolvido abandonar a carruagem e seguir por algum atalho, será ainda mais fácil rastrea-lo e alcança-lo.

- Garanto a vocês, não demorará muito até que o tragam, vivo ou morto. Como eu disse esse não é o maior de nossos problemas.

- Acredito que os senhores entendem a gravidade da situação. Se não agirmos a partir de agora, com cuidado, se tomarmos decisões erradas e precipitadas, podemos colocar em risco todo o reino. Vanrok depende de como trataremos esse assunto.

Tirand concordou e disse:

- Eu penso que durante o tempo que pudermos, devemos manter esta tragédia em segredo, o máximo possível. Durante o tempo em que conseguirmos isso, devemos nos preparar para as consequências, que ocorrerão quando tudo for descoberto.

- Concordo. – disse Zahar. - As consequências podem ser muito graves. Devemos nos preparar para todos os cenários possíveis. Podemos estar falando, inclusive, do recomeço da Guerra.

- Sim. Não há como saber.

Os três homens entraram em introspecção. Se lembraram da Guerra. De todo o sofrimento que passaram e que viram outros passar. E se lembraram de Ethor, o rei que os conduziu a paz.

Vathur quebrou o silêncio.

- Nosso rei era bom. Não acho que ele merecia esse fim. Mas quem somos nós perante a vontade dos deuses. A única coisa que nos cabe, como simples homens, mortais, é lutar por aquilo que acreditamos. E todos aqui acreditamos na importância do legado de nosso rei, ele que por sua vez acreditou e honrou o legado deixado por seus antepassados. A responsabilidade agora passa para nós. Nós que não temos o sangue de Euristeu. Devemos cuidar de Vanrok, como a um filho que nos foi confiado por um grande amigo. Mas devemos lembrar que um dia esse amigo retornará. Não nos esqueçamos que Ethor tem um herdeiro. O futuro pai de Vanrok, Athor. Será também nossa responsabilidade forma-lo, fazer com que ele surja forte e sábio. É uma grande responsabilidade. E eu confio na capacidade dos senhores em cumpri-la.

- Nós também confiamos na sua capacidade, mestre Vhatur. Precisaremos da sua ajuda, agora mais do que nunca.

- Enquanto eu respirar, senhores, Vanrok poderá contar comigo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

História da Infância de Teocr - Treino de Lança




Eram 20 jovens. Todos com 11 anos de idade.

Estavam correndo com o equipamento completo de lanceiro.

As armaduras eram ajustadas ao seu tamanho, porém o peso foi alterado para que o equipamento pesasse o mesmo que a armadura de um adulto.

As lanças não eram modificadas. Eram as lanças usadas por seus ancestrais no campo de batalha. A maioria delas já tinha tirado vidas durante a Grande Guerra. Mas todas, sem exceção, tinham manchas de sangue no cabo.

Foram 8 km de corrida, após duas horas de treino com a lança. Foi bastante difícil para a grande maioria, mas dessa vez, nenhum dos 20 desmaiou.

Eles vieram dos arredores da floresta de Antak até a cidade de Kalahar.

Ao chegar à entrada da cidade, Athro, o general que os comandava, ordenou que parassem.   

- Atenção! Formação!

O grupo entrou em formação retangular. Quatro fileiras de cinco guerreiros cada.

- Marchem!

Entraram na cidade marchando, e assim foram até o Centro de Treinamento.

Esse Centro consistia em um conjunto de grandes construções, cada uma voltada a ensinar um grupo determinado de técnicas e filosofias de guerra. A construção na qual eles entraram consistia em uma grande cúpula. Nas paredes internas havia desenhos e estátuas retratando cenas de batalhas. O piso era de pedra, mas no centro havia um grande círculo onde o chão era de terra batida.

Sob a ordem do general Athro os vinte guerreiros se sentaram em torno da área de terra.

Athro era um dos responsáveis pela educação militar dos mais jovens. As cicatrizes em seu rosto eram mais eficientes em comprovar sua experiência no campo de batalha, do que as marcas, feitas nos braços, recebidas por atos de bravura. E ele também tinha muitas marcas.

O general se dirigiu para o centro do círculo de areia.

- Rakan!

- Sim, senhor.

 - Qual a arma usada por Altgr contra o monstro Ntshai?

- Uma lança, senhor.

- Exatamente. Pegue o livro.

Rakan se levantou, foi em direção a um pequeno altar construído na parede da construção. Em cima deste altar estava um livro. Ao chegar a sua frente, Rakan fez uma pequena reverência, abaixando um pouco a cabeça, como que pedindo permissão aos deuses para pega-lo. Pegou o livro, voltou para o centro do círculo e o entregou a Athro.

Athro folheou o livro até achar as páginas que queria.

- Aqui. Este é um desenho da luta de Altgr.

Entregou novamente o livro a Rakan, que o levou consigo e sentou-se novamente em seu lugar, para ver o desenho e passar o livro para o companheiro ao lado.

- Teocr, qual o nome da lança usada por Altgr?

- Nizak, senhor.

- E quem a entregou a Ele?

- A deusa Liginian, senhor.

- Exato. Verão nesta imagem que Nizak era uma lança longa. Exatamente como essa com que treinaram hoje.

- Ntshai era um monstro lento, mas era muito resistente e forte. Altgr sabia que não poderia simplesmente medir forças com ele. Mas teria que lutar dentro da caverna onde o monstro estava escondido. Não havia tanto espaço. Não poderia ataca-lo a distância como fez com Anktar. A lança era a escolha mais adequada. Pois possibilitava usar uma grande força, mas de forma precisa, e ainda, guardando certa distância do inimigo.

- Altgr lutou com o monstro por mais de 400 anos dentro da caverna. Quando saiu, não conseguia suportar a luz do dia, ficou como um cego. Mas Liginian cuidou Dele e fez com que descansasse o tempo necessário para se curar e reaprender a olhar de novo, sob a luz do dia. Assim aconteceu em tempos antigos.

- No dia de hoje, vocês aprenderam a golpear, estocar e a cortar com a lança. Se tivessem que lutar contra Nitshai, estariam mais preparados agora que aprenderam estas coisas, mas ainda é necessário muito treino.

- Conheci um mestre lanceiro que dizia que para adquirirmos verdadeira habilidade com uma técnica, devemos repeti-la ao menos dez mil vezes. Com esse número, a técnica se torna parte de nós. Não precisamos mais pensar, para executa-la.

- Terão que treinar por conta própria para alcançar esse número. Pois não será só a lança que os ensinaremos a usar.

- Lembrem-se, devem valorizar e se empenhar em cada treino que fazem. Nunca se sabe se um dia terão que enfrentar um monstro, como aqueles que Altgr enfrentou. Porém se estiverem preparados, não precisarão ter medo. Pois, poderão vencê-lo. E mesmo que não vençam, se estiverem bem treinados, não morrerão de forma desonrosa. Saberão lutar com dignidade. É o treinamento que garantirá a vocês que sejam respeitados tanto por seus concidadãos, aqui neste mundo, quanto pelos Deuses, no mundo além do céu.

- Em cada treino, em cada movimento, é a sua existência que esta em jogo. É o seu destino que esta sendo construído.

Athro olhou para os olhos dos meninos, percebeu que o olhar de alguns brilhava, outros mais tomados pelo cansaço ou por dores não haviam prestado muita atenção.

Se lembrou de quando estava exatamente no mesmo lugar e situação em que estavam agora. Lembrou-se das palavras de seu pai:‘O Caminho é difícil. Mas não mais difícil que o mundo.’

- Muito bem senhores. O treino de hoje terminou. Lavem-se e depois se dirijam ao acampamento para a refeição.

- Sim senhor. – disseram os vinte, em uníssono.

domingo, 11 de agosto de 2013

História da infância de Athor (11 anos) - História do Mundo



- A primeira civilização do Continente Antigo, de que temos registros, se chamava Alogária. Pouco se sabe sobre sua origem. Acredita-se que foram os primeiros homens a aprender a domar os cavalos e também a plantar. Eles formaram grandes cidades. Muitas das cidades de Vanrok levam o nome de cidades antigas de Alogária, como Haenes e Veter. Durante muito tempo foi o único reino civilizado do continente.

- Depois de eras de domínio absoluto sobre o mundo, várias tribos bárbaras começaram a se organizar contra Alogária, contra sua expansão.

- As constantes guerras foram fragmentando cada vez mais a força de seu império. Alogária aos poucos perdeu territórios, até que uma grande invasão a sua capital, Kárdia, foi organizada por seus inimigos.

- Diferentes tribos dividiram seus territórios e com o tempo reinos surgiram.

- E também houve guerra entre esses reinos. Até que cerca de 1300 anos atrás, um grupo de guerreiros vindos do Leste, de um lugar além do Oceano de Heav, chegou até o centro de nosso continente. Onde seu antepassado, O Lendário Rei Euristeu, Antigo General de Kárdia, delimitou seu reino, o reino de Vanrok.

- O Lendário Rei recebeu o grupo de guerreiros do Leste, cujo líder se chamava Eschieros, eles ficaram amigos. E juntos arregimentaram um grande exército que, expandiu Vanrok por todo o centro do Continente. De Namu a Reuleak, de Khan a Katar.

- E por que Esquieros e seus soldados vieram para cá?

- Isso não se sabe, talvez fossem apenas exploradores. Ou talvez seus reinos de origem estivessem destruídos.

- E por que ele ficou amigo de Euristeu e não de outro rei?

- Isso também é difícil saber. Sabe-se que Euristeu era muito respeitado por sua capacidade como general.  É provável que isso tenha chamado à atenção de Esquieros e tenham se conhecido por causa disso.

- Houve diversas guerras durante a expansão de Vanrok principalmente contra os reinos do norte. As guerras mais famosas são a Guerra de Valrar, a Guerra Partoniana contra as tribos de Khan, a Guerra de Taws, a Guerra de Vatur, a Guerra de Vasser, a Guerra de Yerkir, além de outras das quais nos vamos falar com o tempo.

- Mais recentemente, há 73 anos, teve início a Grande Guerra Rakeviana a guerra contra Altgra. Altgra iniciou como uma pequena tribo a sudoeste do Continente, aos poucos foram tomando os reinos vizinhos. Até que vimos sua campanha de expansão se aproximar de nossos territórios. Altgra tentou invadir Terniácole, que era antes um reino vizinho ao nosso.

- Terniácole foi um reino?

- Sim. Seu rei foi morto durante a guerra. Foi uma grande perda, pois era muito amigo de Etoriano, seu tataravô. Quem acabou tomando seu lugar foi um general Vanrokiano. Mais tarde o território foi anexado.

- Quando os altgrianos ameaçaram Terniácole, nós entramos na guerra contra Altgra. Nós sabíamos que se Terniácole fosse tomada, os altgrianos teriam uma base no lado oriental de Rakevia. E Vanrok e todo o leste do mundo estariam ameaçados.

- Nesse momento se iniciou a Grande Guerra, de Vanrok e seus aliados contra Altgra.

- Nessa época o rei de Altgra era Keatakar. O rei de Vanrok era Ethor. A guerra durou 70 anos. A mais extensa e sangrenta guerra no Continente até hoje. Vamos falar muito sobre essa guerra. Meu avô participou do inicio da Guerra, como general, meu pai também lutou, e também eu. Conheço muitas histórias, algumas que meu pai me contou, e outras que eu mesmo presenciei.

- Nesta guerra Vanrok não perdeu nenhum de seus territórios, mas Altgra conseguiu se expandir por todo o Oeste do Continente. Há 3 anos, seu avô o Rei Ethor II selou um acordo de paz com Euristeu, o rei de Altgra. Então, tem havido paz até agora.

- Esta é uma versão bastante resumida da história de nosso reino e nosso Continente. Muita das coisas que lhe falei você já conhecia. Mas algumas coisas das quais falaremos daqui em diante, apenas alguns conhecem. Espero que entenda a responsabilidade que terá, de guardar essas informações com cuidado. E também de usar essas informações para entender de forma clara como chegamos a nossa atual condição, e assim estar pronto para, quando chegar a sua hora, governar este reino com a grandeza que ele merece. A mesma grandeza com a qual ele foi governado pelos seus antepassados.

- A carga sobre seus ombros é grande. Mas você não está sozinho Athor, todos nós, todo o povo de Vanrok está ao seu lado.

- Se você se tornar um grande rei seu nome será lembrado assim como o de Erastóteles e de Batorshak seus grandes heróis. Portanto se anime.

- Sim, senhor.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

História da Infância de Teocr - Águia




Teocr estava descansando em seu quarto depois do treino da tarde. Estava olhando para o teto, quando percebeu, de repente, algo passar rápido pela janela do quarto. Não soube identificar o que era, mas parecia grande pela sombra que projetou.

Ele foi em direção à janela, que ficava no segundo andar do castelo, olhou para o chão e viu uma águia caída. Ele então disparou em direção à porta.

- Águia! Uma águia! – ele gritava.

- O que foi? – perguntavam os guardas.

Ele respondia com os mesmos gritos enquanto corria o mais rápido possível em direção ao portão interno.

Saiu e contornou as paredes até chegar ao local.

Quando viu a águia, parou. Teocr estava a cerca de 4 metros do animal. Ela estava na areia, próxima ao muro do castelo. Sua asa estava dobrada de forma estranha.

De repente, o animal percebeu sua presença e retornou para o menino um olhar cheio de fúria.

E neste momento, no exato momento em que seus olhares se cruzaram, pareceu para Teocr, que tudo, com exceção da águia, havia deixado de existir. Era como se ele mesmo não existisse mais. Por um tempo, que Teocr não conseguiria definir quanto, foi assim.

Mas de repente, a águia gritou. E esse grito, para o menino, foi como uma onda gigantesca, que o alcançou e o golpeou com uma grande força. Ele caiu sentado no chão, atônito, com os olhos fixos nos da águia.

- Teocr, ai esta você.

A águia então voltou sua atenção ao guarda que havia chegado.

No momento em que os olhos da águia se desviaram, Teocr voltou a sí, e se virou para o guarda.

- A águia está machucada.

O guarda olhou para a asa.

- A asa esta quebrada. Para ajudar precisamos imobiliza-la e colocar ataduras. Existe um homem no 
reino que treina falcões. Ele deve saber o que fazer. Vou mandar busca-lo.

O falcoeiro trouxe ataduras e equipamentos. Com habilidade ele capturou e imobilizou a águia. Então colocou nela um equipamento que prendeu sua asa.

Teocr acompanhou todo o processo, ajudando naquilo que podia.

Ele pediu para que a gaiola com a águia ficasse em seu quarto e foi ele quem a alimentou todas as vezes.

Depois de uma semana e meia, ela deu sinais de melhora.

O falcoeiro a imobilizou novamente, retirou a atadura e colocou-a novamente na gaiola.

- Agora você pode solta-la. Ela vai voar. Quer solta-la agora?

Teocr olhou mais uma vez para seus olhos. Assim como havia feito em muitos momentos enquanto cuidava dela. Mas não conseguia sentir o mesmo que sentiu na primeira vez que a encontrou.

- Eu vou solta-la.

Eles a levaram para fora do castelo. Direcionaram a porta da gaiola para as montanhas. Ele a abriu e a águia disparou.

Ela voou alto, fez alguns círculos no céu, depois voou para mais longe, até que aos poucos 
desapareceu da vista do menino.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Disciplina


A disciplina é importante na busca de muitos objetivos.

Disciplina é fazer regularmente uma coisa visando alcançar um objetivo.

A dificuldade em se ter disciplina vêm do fato de não enxergarmos os resultados que vêm em longo prazo.

Um exemplo é quando fazemos exercícios físicos.

Não é possível perceber em um único dia de exercício físico, qualquer tipo de desenvolvimento na nossa força.

Mas se continuarmos nos exercitando, em algum momento, depois de algumas semanas ou meses, seremos capazes de perceber que conseguimos algo que não tínhamos antes.

Portanto, para que tenhamos disciplina é necessário enxergar a frente.

É necessário enxergar o resultado final do esforço que estamos fazendo, mesmo que ele não seja aparente no momento atual. Isso só é possível tendo-se conhecimento de qual é o resultado da repetição daquele esforço.

E também é necessário que acreditemos que de fato esse resultado surgirá, pois, se duvidarmos disso, poderemos ficar desmotivados e não ver mais motivo para continuar se esforçando.

Portanto a disciplina depende da fé, pois fé é acreditar que algo é possível, mesmo que não consigamos enxergar essa possibilidade, ou que a enxerguemos muito pouco.

Quando se trata do nosso desenvolvimento como ser humano, os resultados realmente importantes demoram muito para serem construídos. Não é possível percebê-los em dias, semanas ou meses, a maioria precisa de alguns anos, alguns até de décadas.

É realmente muito difícil manter-se motivado a fazer um esforço continuado, cujo resultado só virá daqui a muitos anos. É preciso acreditar muito fortemente de que esse esforço é realmente necessário.

É preciso enxergar o objetivo que queremos conquistar como uma necessidade.

Conseguimos enxergar um objetivo como necessário, quando percebemos a falta que ele faz em nossa vida, no atual momento.

Enxergar a falta que o alcance desse objetivo faz em nossa vida, pode nos trazer a motivação necessária para que continuemos a nos esforçar para alcançá-lo.

Portanto a disciplina funciona ao se entender o que precisamos no momento presente, e ao se acreditar firmemente que graças ao esforço continuado que estamos fazendo, o resultado realmente virá.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Koryu


Um dia participei de um seminário de jodo (lula com bastão), e no inicio de uma das aulas o sensei resolveu falar sobre o Koryu. Ele falou mais ou menos o seguinte:

No inicio, as artes marciais serviam a um propósito prático.

Um guerreiro tinha 3 deveres que deveriam ser seguidos nessa ordem.

1o - Proteger sua terra. Porque é nela que se mora e é nela que se cultivam os alimentos.

2o - Proteger todas as pessoas da terra. Porque sem as pessoas a terra não pode produzir.

3o - Proteger a própria vida.

A proteção da própria vida é colocada em ultimo lugar, pois se entendia que sem a terra e sem as pessoas que viviam nela, não se viveria uma vida digna. Portanto era preferível a morte, ao não cumprimento dos dois primeiros deveres.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cruzando a Torrente - Ogha-tarana Sutta

Fonte : http://www.acessoaoinsight.net/index.htm

Assim ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então, quando a noite estava bem avançada, uma certa devata com belíssima aparência que iluminou todo o Bosque de Jeta, se aproximou do Abençoado. Ao se aproximar ela homenageou o Abençoado e ficando em pé a um lado a devata disse:

“Como, estimado senhor, você cruzou a torrente?”

“Eu cruzei a torrente sem me impulsionar para frente, sem ficar parado no mesmo lugar.”

“Mas como, estimado senhor, sem se impulsionar para frente, sem ficar parado no mesmo lugar, você cruzou a torrente ?"

"Quando eu me impulsionava para frente eu era arrastado. Quando eu ficava no mesmo lugar eu afundava. Assim eu cruzei a torrente sem me impulsionar para frente e sem ficar parado no mesmo lugar."
[A devata:]
Por fim eu vejo
um brâmane completamente saciado,
que sem se impulsionar para frente
sem ficar parado no mesmo lugar,
superou os apegos ao mundo.

Isso foi o que a devata disse. O Mestre aprovou. Então aquela devata pensando, "O Mestre me aprovou," homenageou o Abençoado, e mantendo-o à sua direita, desapareceu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Amor

Quando nos aproximamos de algo, aumentamos nossa compreensão.

Quando nos aproximamos plenamente, compreendemos plenamente.

Tão difícil é se aproximar plenamente daquilo que gostamos quanto é dificil se aproximar plenamente daquilo que não gostamos. Nao existe diferença.

O amor é o que conduz a cessação da ignorância, pois nos move em direção a vida, que é onde mora o verdadeiro conhecimento.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lei


A natureza tem uma lei. Qualquer caminho tomado pelo homem que não esteja de acordo com essa lei, conduz necessariamente ao sofrimento.

Haverá um dia em que os homens chegarão ao limite do sofrimento e daí procurarão curá-lo. Neste dia eles procurarão a lei. Irão estudá-la, tentar compreende-la. E tentarão agir conforme seus desígnios.

Aqueles que não agirem dessa forma, sucumbirão. A própria terra os expurgará.

Portanto certamente haverá o dia em que só andarão sobre a terra aqueles que estudarem sua lei. Mas este dia pertence ao futuro. Por um tempo muito longo, a ignorância dominara a mente dos homens. Um tempo muito longo mas não infinito.

Então hoje, qual a vantagem em se estudar e conhecer a lei, se o que impera é a ignorância?

Para entender isso é preciso entender também que a ignorância dos homens é uma das coisas que existem no mundo, e tudo o que existe no mundo só o faz porque assim a natureza o permite.

Podemos ficar impacientes com aqueles que não enxergam a lei, mas a impaciência também nasce da ignorância. Pois tudo o que acontece no mundo acontece como resultado dos desígnios da natureza. Isso vale também para o tempo em que as coisas acontecem.

Se nosso coração e nossa mente moram num futuro, que acreditamos, será melhor, então nosso coração e nossa mente estão longe do coração e da mente da natureza. O coração e a mente da natureza estão no momento presente, pois ela não é aquilo que foi ou o que vira a ser, ela é aquilo que é. O próprio tempo não é mais que mais uma de suas criações. Ela cria e conduz o tempo, não é criada ou conduzida por ele.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobre o medo

Um dia estava conversando com uma grande amiga minha que é médica. Estávamos falando sobre o medo.

Ela me falou que o último reflexo a desaparecer no corpo é o reflexo do músculo em torno dos olhos. É o último reflexo medido num paciente com morte cerebral. Se trata do mesmo reflexo que os espartanos consideravam o mais difícil de controlar, o ponto do corpo cuja reação é a mais sensível ao medo.
No dia seguinte à conversa fiquei atento a esse músculo e suas reações.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Deus


O ser humano faz parte do universo, mas os seres humanos não estao no centro do universo.
Quando o homem pensa ‘estou no centro do universo’ ou ‘vejo o universo do centro’ ele também pensa ‘posso ver o movimento das coisas que se movimentam’, mas isso é ilusório, pois o homem também esta se movimentando, ele também é umas das coisas que se move. Por isso ele não é capaz de perceber o verdadeiro movimento das coisas que se movimentam. Só Deus pode perceber o movimento das coisas pois ele esta no centro do universo, Deus mora no ponto imóvel do universo, de onde se pode medir o movimento de todas as coisas existentes.

Quando o ser humano tem certeza de algo, quando se apóia em seus conceitos, ele vive na ilusão.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre o medo


O medo é uma interrupção abrupta e ou intensa, da expectativa.

O medo surge quando se apresenta um cenário ou condições que nunca vimos, que nunca imaginamos, ou então que esquecemos.

O medo surge na mente do individuo quando este é colocado, ou se coloca em uma situação critica. Onde uma determinada ação é necessária. Uma ação que ele desconhece.

O medo é uma reação da mente, pois a condição desconhecida que deverá ser enfrentada e a ação desconhecida que devera ser executada chamam a necessidade de se apagar a mente.

De deixar de lado aquilo que se conhece, deixar de lado os pensamentos, expectativas e inundar a mente com a realidade das condições, as condições do meio em que a ação será executada e sua própria condição, a condição do individuo que executará a ação.

O medo é a reação da mente contra a realidade. Vencemos o medo ao nos integrarmos a realidade.

O medo indica o ponto onde nossa mente não funciona. Indica seus limites, indica os pontos onde a mente não é mais útil, onde ela deve ser superada.

Nos integramos a realidade quando ficamos absolutamente atentos a ela. Quando nos concentramos apenas e tão somente na realidade. Quando inundamos nossa mente com a realidade e afogamos todos os pensamentos.

Enfrentar o medo é o único caminho para o fortalecimento do espírito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre a coragem


Coragem implica em abnegação, inteligência, vencer o medo 

Coragem é agir mesmo sem ter o conhecimento sobre as circunstancias em que a ação irá se desenvolver. É quando não se sabe qual será sua condição depois da ação executada.
Medo do fracasso, é quando não temos certeza se nossa ação será julgada por nos mesmos como corajosa e util, ou como estúpida e ridícula. Por isso a coragem depende da inteligência.

Também é preciso autoconfiança, porque no final das contas o que vai fazer com que acreditemos, tenhamos esperança, que julgaremos nossa ação como a corajosa e útil depois dela concluída, é a crença de que somos capazes de realizar algo corajoso e util. Entao, é necessário auto confiança e inteligência.

Alguem que tenha esses dois atributos será corajoso. Mas muitos começaram não tendo algum desses atributos, ou os dois. Isso é possível?

È possível alguém se tornar um herói. È possível não ter uma dessas qualidades, mas desperta-la em momento critico.

O que motivaria o despertar dessas virtudes, a autoconfiança e a inteligência?
A motivação da morte é a motivação suprema. Ela desperta todas as virtudes.

A virtude da autoconfiança, vem de nos focarmos naquilo que podemos fazer, e tirarmos o foco sobre aquilo que não podemos.

A virtude da inteligencia nasce da simples atenção plena. Simples mas difícil de adquirir. Ou de readquirir pois nascemos com ela, assim como os animais selvagens, que as mantem por mais tempo ou por toda vida.

A motivação da morte é superior a motivação do amor?

Já houveram guerreiros que falaram sobre isso. E eles eram guerreiros respeitáveis e reconhecidamente corajosos. Eles falavam sobre a motivação do amor ser superior a todas as outras. Mas é muito difícil entender verdadeiramente o que é amor. Alguns dizem que quando compreendemos verdadeiramente seu significado, percebemos que a motivação da morte e a motivação do amor não são diferentes.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Símbolo

Um símbolo serve para tratar daquilo que não pode ser definido, conceituado, que não pode ser conhecido. Tratar o símbolo como uma hipótese cientifica é desviar o sentido do símbolo. Quando o símbolo é tratado como uma hipótese cientifica ele perde sua utilidade.

A idéia de renascimento é simbólica, e não literal. Tratar esse símbolo como uma hipótese científica é ficar cego à sua verdade.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O pensamento

O pensamento é o processo através do qual definimos um valor a uma determinada coisa.

Mas um valor só pode ser desenvolvido tendo como referência seu valor oposto.

Portanto a mente é sempre dual.

A matemática é o pensamento dual mais fortemente fundamentado já criado pela mente humana. Por isso tem utilidade como ferramenta.

Mas o universo não é dual.

Quando conseguimos pensar de forma não dual, mas de forma una, nossa mente desaparece.

Mas ai não estamos mais pensando. Estamos apenas observando o universo.

E percebemos que ele não é formado de partes.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Poema do Deus da Guerra

O homem deve ter uma vida exaustiva e difícil.

Não é homem aquele que busca a facilidade ou o reconhecimento.

O homem deve buscar a morte. Uma morte com honra.

Um homem deve lutar pela sua honra e nunca pela sua vida.

Um homem deve respeitar e buscar aquele que lhe ataca, e deve menosprezar aquele que lhe adula. Pois sabe que seus verdadeiros inimigos são aqueles que se aliam com seu pior inimigo, o orgulho. Inimigo terrível, que nunca dorme, sempre a espera de que baixe sua guarda, para assim atacar a fortaleza da honra, tão arduamente construída e único refugio seguro, único lugar onde se pode viver em paz.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Mente Pura

Um dia, quando fui a São Paulo, estava conversando com o filho da minha prima, que deve ter uns 5 anos de idade. A conversa era sobre insetos.

No meio da conversa ele disse que um dia havia sonhado que uma borboleta amarela tinha pousado no seu ombro e depois no ombro de sua irmâ.

Isso se chama mente pura.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MEDITAÇÃO


A técnica para fazer desaparecer o pensamento é a de encher a mente de realidade.
Os estímulos devem ser separados dos seus condicionamentos.
A técnica consiste em prestar atenção no máximo de estímulos possíveis e manter esta atenção sem permitir que o pensamento surja e se surgir que não se desenvolva. A atenção correta ao estímulo inibe o surgimento e o desenvolvimento do pensamento.

Essa é a tecnica para alcançar o Kensho.

Se trata de adotar uma condição de ação contínua.
Enquanto o indivíduo age ele não se prende aos pensamentos. Apenas presta atenção nos estímulos e no objetivo.
Assim que o pensamento serve ao objetivo ele nao mais é necessário. Portanto ai não existe apego. Enquanto ha ação nao existe apego ao pensamento.

O pensamento dentro da ação funciona como ferramenta e nao como prisão para a mente.
O pensamento fora da ação funciona como prisão para a mente.

(Sobre Kensho : http://pt.wikipedia.org/wiki/Kensho)

Tartaruga



As tartaruguinhas que vão para o mar quando nascem tem mais chances de sobreviver e por isso se tornam membros relevantes para o desenvolvimento e propagação da espécie. As que não forem para o mar, terão menos chances de sobreviver e procriar e, se assim for, não serão membros relevantes para o desenvolvimento e propagação da espécie.

Da mesma forma os teoremas e proposições lógicas criados para explicar a realidade se desenvolvem e se propagam conforme sua relevância e capacidade de produzir resultados.

Da mesma forma como o bebê experimenta as possibilidades do espaço a sua volta o cientista experimenta as possibilidades, através da lógica, do espaço a sua volta.( As possibilidades lógicas do espaço a sua volta.).

Nem o bebê nem o cientista lidam com possibilidades irrelevantes.